Um conto de “fadas”?

Desejando que o espírito real seja acolhido e guiado nos caminhos do Bem, mas sem perder a memória, tampouco sem se deixar levar pelo delírio coletivo do senso comum que tenta esconder o passado e sublimar a memória para ocultar o lado sombrio dos que morrem, o OSPYCIU traz este texto, escrito a quatro mãos. Mãos que se entrelaçaram na hora certa.

Boa leitura!

Príncipe William, do Reino Unido, neto da rainha Elizabeth II e segundo na linha de sucessão ao trono britânico, depois de seu pai, o príncipe Charles.

Um conto de “fadas”?

    A morte da rainha Elizabeth II movimentou as redes sociais, talvez pela duração de seu reinado de 70 anos ou pela construção social hegemônica de que a monarquia britânica mora naqueles contos de fada que nos remetem à infância.

   Essas construções ideológicas invisibilizam como essas monarquias foram de fato construídas e mantidas, às custas da colonização, do tráfico de escravos, apartheid, assassinatos de líderes irlandeses e o colonialismo, especificamente a Conferência de Berlim (1884) que partilhou a África entre as seis potências europeias: Inglaterra, França, Bélgica, Alemanha, Portugal e Espanha.

   Neste conto de “fadas”, não esqueçam de olhar para as pessoas que puxam a carruagem, sustentam o castelo e o mantém funcionando.

   Não, não perdemos o senso de humanidade (inexistente nos corações colonizadores). Não estamos comemorando a passagem da Queen, absolutamente, mas, como disse uma querida amiga, também historiadora, “coleguinhas de luto pela rainha Elizabeth, não tem quem aguente”.

   Nós, historiadoras (es), sabemos que se trata de uma história de racismo, genocídio, exploração e opressão. E a rainha é um símbolo que representa tudo isso. Ela é tributária dessa dívida histórica irreparável.

   Senso comum e falta de memória não se coadunam com o fazer histórico. E desculpe se o nosso papel é, parafraseando Carlos Drummond de Andrade, “contar o que não faz jus a ser glorificado”.

    Deus salve a Rainha!

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  • Prof.ª Dra. Luciana Falcão;
  • Prof. Paulo Leite.

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